Leia na íntegra o artigo de opinião de Pedro Rego, intitulado “Inteligência Artificial: de Pessoas e para Pessoas”, publicado na mais recente edição do Yearbook do jornal ECO, relativo ao ano de 2024:

“O progresso é impossível sem mudanças, e aqueles que não são capazes de mudar sua própria mente não podem mudar nada”. Esta citação, do escritor e crítico literário irlandês George Bernard Shaw, galardoado com o Prémio Nobel da Literatura em 1925, é um mote orientador na nossa atividade. Oculta, contudo, um progresso no qual considero em que “não mudar” pode ser positivo.

Acredito que estamos já a assistir a um processo de renovação (quiçá, um “renascer”), no qual a crescente e imprescindível digitalização dos processos levará a uma reflexão transversal sobre a forma como lidamos com o fator central das empresas, as Pessoas. Um verdadeiro caminho sem retorno.

Desde a década de ’80, coincidente com o início da nossa empresa, até aos dias de hoje, as mudanças na Gestão de Recursos Humanos foram radicais, estruturais e positivas. Há, ainda assim, um fator que pouco se alterou, desde então: as preocupações dos trabalhadores.

Começando nos jovens, passando pelos perfis de coordenação e até aos cargos de topo, todos mantemos a vontade de equilibrar as horas no escritório com o tempo dedicado à família, a evolução na carreira a par da valorização salarial, e o sentimento de estarmos a contribuir para uma empresa com valores sólidos, associados às nossas próprias crenças.

Não podemos cair no erro de considerar que a “máquina” será algum dia mais relevante que o engenho humano

Sim, certas características alteraram-se. Atualmente, os modelos de trabalho são distintos, os benefícios atribuídos aos Colaboradores diversificaram-se e o grau de qualificações não terá sequer comparação, mas se há algo que os fatores imutáveis nos ensinam é que, por mais brutal que se apresente a mudança espoletada pela tecnologia, as Pessoas deverão ser inexoravelmente a raiz de qualquer Organização e as suas preocupações a base de qualquer estratégia de médio a longo prazo.

É, por isso, que o advento da inteligência artificial (IA) e sucessiva explosão na utilização diária, nomeadamente na operacionalização de certas tarefas, nos impele a refletir profundamente como não podemos cair no erro de considerar que a “máquina” será algum dia mais relevante que o engenho humano.

No caso do setor segurador em específico, já estamos a beneficiar de vantagens significativas em comparação com outras indústrias no que diz respeito à utilização produtiva da IA. Pode, até, acumular a maioria das complexas tarefas processuais de sinistros, encarregar-se da gestão administrativa que ocupa múltiplas horas de trabalho ou mesmo de uma fração do contacto com o cliente, mas as idiossincrasias culturais, os detalhes ínfimos dos processos de negociação ou a leitura facial dos sentimentos de um colega nunca serão interpretados de forma mais eficaz do que por uma Pessoa.

Torna-se impossível ignorar uma mudança sem precedentes, até porque não deixo de testemunhar uma comprovada alteração geracional, mas é precisamente isto que as mais jovens faixas etárias nos pedem: serem ouvidas, serem consideradas as suas características próprias e serem valorizadas as suas competências.

Conclui-se, portanto, que o equilíbrio será chave, como em qualquer tipo de desafio. Com a impressionante leitura em massa de dados que a IA nos proporciona, saibamos adequá-la para construir soluções mais personalizadas a cada cliente. Através da otimização dos processos, consigamos valorizar a capacidade criativa e o valor acrescentado dos Colaboradores para o contacto humano. E por cada inovação que seja introduzida, não nos esqueçamos por quem e para quem foram desenvolvidas: de Pessoas, para Pessoas.

Por Pedro Rego, Administrador do Grupo REGO e CEO da F. REGO – Corretores de Seguros