O Mar Vermelho, uma rota vital para o comércio internacional, atravessa tempos turbulentos.

Com o intensificar dos ataques a navios comerciais que circulam nesta região por parte dos Houthis, um grupo rebelde xiita que controla uma parte significativa do Iémen, a crescente instabilidade afeta a navegação na região, mas que implicações pode significar nos prémios e coberturas de seguros marítimos?

A perturbação na circulação marítima

Os ataques dos Houthis têm perturbado fortemente a circulação no Mar Vermelho, uma importante rota do transporte internacional, em particular entre a Ásia e a Europa. O desvio dos navios para rotas mais longas e demoradas está a aumentar os custos do transporte e a fazer subir diretamente os preços da energia e dos alimentos.

Este cenário reflete-se igualmente no incremento dos prémios de seguros de navios e cargas. As seguradoras estão a ajustar as suas políticas de risco, limitando coberturas ou exigindo aumentos de prémios para segurar as embarcações e as cargas que enfrentam os novos desafios da navegação no Mar Vermelho.

As exclusões e a complexidade da situação

É, contudo, importante ressalvar que o risco de guerras e greves, onde se pode incluir a pirataria, é uma cobertura adicional que não é subscrita pela generalidade das empresas para os respetivos transportes. Neste sentido, a atual situação não está a ter influência sobre os prémios cobrados para os riscos “normais”.

Em sentido oposto, no que concerne a esta cobertura adicional em concreto, o impacto é significativo. O preço e a indisponibilidade para aceitação têm aumentado de forma considerável devido à exposição crescente e restrições técnicas determinadas pelas seguradoras. A complexidade da situação nesta região cria incertezas, dificultando o processo de inclusão de coberturas adicionais e expondo as Organizações a uma enorme ameaça.

As áreas do Mar Vermelho, do Mar Arábico e as águas próximas da Eritreia, Djibuti e parte do Golfo de Aden são consideradas de “alto risco”. Neste sentido, o seguro de carga para bens que circulam por esta região é inicialmente coberto (“held covered”), mas as condições completas e o custo (a denominada taxa WSRCC – Guerra, Greves, Motins e Tumultos Civis) não são determinadas à partida. Nesta ótica, as seguradoras têm enviado avisos de cancelamento (NoC) para esta cobertura na região acima discriminada como de alto risco. Deverá ser notado que esta ação não implica que a cobertura seja cancelada, mas sim que os termos e preços específicos estão em suspenso. A taxa WSRCC final será determinada posteriormente, com base nas circunstâncias específicas de cada embarque, nomeadamente a rota e o valor.

Este cenário acarreta um conjunto de consequências, que se estendem para lá do expectável aumento de custos por via da avaliação de alto risco. A primeira prende-se com a incerteza, dado que o custo exato do seguro é indeterminado até à definição definitiva dos detalhes do embarque. Por outro lado, assegura uma maior flexibilidade, dado que o estatuto “Held covered” possibilita a finalização dos termos do seguro mais próximos da data do embarque, não implicando adiamentos ou atrasos em função destes, dado que a carga fica sempre com uma proteção temporária – algo particularmente relevante no quadro de uma cadeia logística extremamente condicionada e com tempos de trânsito bastante superiores ao habitual.

As implicações globais e a resposta internacional

O paradigma atual nesta região é de enorme complexidade e a forma como a situação se desenrolará nas próximas semanas permanece uma incógnita. A importância e impactos estendem-se a todo o globo, pelo que as Organizações internacionais estão já diretamente envolvidas no tema.

Em paralelo com um conjunto de ataques de resposta por parte dos Estados Unidos da América, o Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) aprovou uma resolução, a 10 de janeiro, exigindo que os Houthis encerrem imediatamente os ataques a navios no Mar Vermelho. Estes rejeitaram a resolução, apelidando-a de “jogo político”.

O Mar Vermelho está, desta forma, no epicentro de uma crise que desafia as normas comerciais, pelo que a travessia desta zona do globo se afigura como altamente arriscada e sujeita a um enorme nível de ameaça. Em consequência, a situação afeta diretamente os seguros marítimos, fazendo com que a mitigação por via de uma cobertura adicional de seguro seja escassa e de valor elevado.

Enquanto as incertezas persistem, as empresas enfrentam a difícil tarefa de adaptar as suas estratégias de seguro para enfrentar os novos desafios na navegação internacional. Para perceber como a sua Organização se pode preparar para responder a cada cenário de riscos, poderá contactar a equipa da F. REGO através da seguinte ligação.

Luís Vicente, Diretor de Negócio UN Porto da F. REGO